Confraria dos Ovos Moles de Aveiro

OS OVOS MOLES

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HISTÓRIA

Após a introdução da plantação da cana-de-açúcar na Península Ibérica pelos árabes a partir do séc. VIII, foram os portugueses que, depois de tentativas de produção em território nacional, a difundiram pelo espaço atlântico logo nas primeiras viagens dos descobrimentos. Foi numa das primeiras terras a ser “descoberta”, a Ilha da Madeira (1420), que a produção e comércio de açúcar se tornaram uma das mais fortes actividades económicas, logo na segunda metade do século XV, em consequência da excelência do clima e elevada fertilidade dos solos da ilha.

 

A 5 de Dezembro de 1452, o Infante D. Henrique assina um contrato com o capitão de caravela Diogo de Teive, pelo qual este se compromete a construir um engenho de água na Madeira para a produção de açúcar e a entregar ao Rei a terça parte da sua produção. Logo em 1454, segundo relatos do navegador veneziano Cadamosto, o Infante apresenta a venezianos “amostras de açúcar da Madeira, e sangue de drago e outras boas coisas”.

 

Da parte do açúcar que cabia à coroa, algum foi dado como “esmola”a várias instituições como por exemplo ao hospital de Todos os Santos em Lisboa (1506), Misericórdias do Funchal (1512) e Ponta Delgada (1515) e aos conventos de Guadalupe (1485), Évora (1497), Beja (1500), Aveiro (1502), Coimbra (1510), Vila do Conde (1519).

 

De facto, está bem atestado documentalmente, que o Convento de Jesus de Aveiro recebia açúcar da Madeira. Por carta régia, de 31 de Outubro de 1502, D Manuel I dá como esmola, 10 arrobas anuais de açúcar, da parte do Funchal, pagas e assentadas do quinto que o rei dispunha na ilha. A 7 de Novembro de 1527, D. João III assina em Coimbra uma tença de 10 arrobas de açúcar também da Madeira, em carta de Aires Fernandes. D. Sebastião renovou a concessão das 10 arrobas de açúcar.

 

O primeiro uso do açúcar dentro do Mosteiro de Jesus terá sido na botica (farmácia). Tanto podia ser usado na síntese de medicamentos ou ingerido diretamente como suplemento energético aos doentes (normalmente subnutridos). Efectivamente, em carta de 4 de Abril de 1512, a prioresa do Convento solicitava o envio urgente do açúcar, a fim de ser usado na enfermaria.

 

O mosteiro de Jesus de Aveiro foi fundado em 1458 por D. Brites Leitoa, senhora nobre, casada com Diogo de Ataíde. Este casal veio da corte, em Lisboa, viver para Ouca (Vagos), onde possuíam uma rica e vasta quinta. Posteriormente, D. Brites, enviuvando aos 27 anos, resolveu dar-se à vida religiosa promovendo a construção de uma casa de recolhimento espiritual, em Aveiro, que viria a ser o futuro Mosteiro de Jesus.

 

A sua Quinta em Ouca produzia grandes quantidades de produtos alimentares como os cereais, vinho ou ovos, que serviam como ajuda ao sustento das religiosas.

 

Com a entrada no convento dos ovos, provenientes da quinta de Ouca ou dos pagamentos de foros (feitos em géneros, onde se destacam o trigo, as galinhas e os ovos), e do açúcar, rapidamente estes produtos terão passado da botica para a cozinha. Aqui, as freiras agora tornadas cozinheiras doceiras, terão experimentado com mestria tão doce ingrediente. Também a necessidade de encontrar uma forma de conservar por mais tempo os ovos, ou melhor as gemas, pois as claras tinham várias utilizações como a de engomar os tecidos, terá levado á sua junção com o açúcar, constituindo-se assim um doce de ovos.

 

Não se sabe quando se deu esta primeira junção destes dois ingredientes para formar um doce. No entanto, com a entrada do açúcar no convento no início do séc. XVI, onde já existiam os ovos (e a água tão abundante nas redondezas), poderá ter sido por esta época que terão ocorrido as primeiras experiências na cozinha. A antiga receita do doce de ovos da cozinha do convento terá dado origem ao actual característico doce de Aveiro, os Ovos moles, não se sabendo no entanto quando terá aparecido tal como hoje o conhecemos. A sua apresentação mais conhecida é dentro de moldes de obreia (hóstia), com motivos, normalmente, ligados ao mar como conchas, búzios ou peixes. Esta hóstia é feita da mesma matéria das hóstias utilizadas nas celebrações litúrgicas, e sabendo-se que estas eram produzidas no convento, facilmente podemos aceitar que a incorporação da massa de ovo dentro da hóstia tenha sido realizada por alguma freira, talvez numa tentativa de facilitar o seu manuseio. Mas também aqui não se sabe ao certo a sua origem.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, foi deliberado que um convento ou mosteiro pertencente a ordens religiosas femininas seria extinto por óbito da última religiosa, que no caso do Mosteiro de Jesus de Aveiro aconteceu a 2 de Março de 1874. Esta religiosa tinha uma empregada, a D. Odília Soares, que sabia a receita e fazia os ovos moles no mosteiro. É assim, pelas mãos desta senhora, que a receita deste doce transpõe os muros do convento, secularizando-se. D. Odília começa então a fazer os ovos moles, em casa, segundo a receita do mosteiro. Posteriormente a receita passa para outras mãos sendo difundida a sua produção.

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